O dia-a-dia dum Marciano em Vénus, numa casa de mulheres: Sara (a mãe), Maria Ana, Maria Francisca e Maria Rira (mais a cadela Karina)...

Um tremendo desafio para um homem na idade moderna: como compreender, como falar a linguagem delas, como perceber as suas "mariquices", como ralhar sem fazer chorar, como controlar sem ser controlador, como deixar andar mantendo as meninas vigiadas...ufff! Enfim, como ser dominado e achar que se domina tudo...

Estou a escrever isto e já só quero fugir...

Mas a viagem já começou e este marciano vai a caminho de Vénus, com um bilhete só de ida no bolso (com um grande sorriso de felicidade nos lábios...)...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Jogo (Parabéns, Ana!)



Fizeste-te esperar pelo tempo que precisaste.

A mim pareceu-me um exagero, mas parece que “é mesmo assim” – diziam-me.

Marcamos o dia e lá estava eu à tua espera onde combinado, sem saber que a espera se iria prolongar por mais um dia.

Não nos conhecíamos, mas tínhamos a certeza que nos reconheceríamos.
Não sabíamos como, mas sentíamos que estávamos ligados por uma qualquer força invisível.
Não imaginávamos bem onde, mas era certo que em qualquer lugar do mundo seriamos unidos.
Nunca havíamos visto as nossas bocas ou os nossos dentes, mas não havia dúvidas que no futuro os nossos sorrisos iriam-se cruzar no infinito e que as nossas gargalhadas seriam inconfundíveis um para o outro.

Tu ainda não sabias, mas eu tremia de medo por não saber nada.
Eu temia não te ter, mas tu fizeste (e fazes) valer bem a pena o medo. Pena tenho de eu não ser melhor ainda.

As cartas seriam dadas a cada um de nós, mas eu não tinha nenhum trunfo na mão. Não tinha estratégia definida, nem nunca fui jogador.

Eu fui ao local e dia decidido.
Tu só apareceste no dia seguinte.
Chegaste com toda a força no teu grande e verde olhar.

Cegaste-me.
Abençoaste-me.

E desde o dia que me tocaste, trocaste-me as voltas.
Desde o momento em que te vi, nunca mais vi nada igual. Nunca mais vi qualquer coisa como até ali. Nunca mais olhei para as mais simples coisas, como desde esse segundo que te senti respirar pela primeira vez.

E ainda bem que o fizeste.
Ainda bem que nasceste…
E, mais que muito… E, melhor que tudo, és minha e não largo.
“Tudo o que é meu é tudo o que eu não sei largar.”


Tiago Bettencourt & Mantha - O Jogo
 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Urso Chinês e os Sameirinhas...




Um desses escritor/pensador mais famoso, defende uma teoria, um pensamento: de que não se deve voltar a um local, um sitio, onde já se foi muito feliz, pois há uma forte possibilidade desse regresso ser uma enorme desilusão, não correspondendo as novas sensações às deixadas no coração e na memória…

Pois eu arrisquei tudo e fui com as miúdas ao concerto “Panda e os Caricas” no  Pavilhão Multiusos de Gondomar, local onde já gozei de agradáveis tardes/noites de entretenimento numa feira temática que costuma por lá acontecer em Fevereiro…

O Canal do Urso Chinês tem esta varinha de condão de criar umas personagens musicais que são um fenómeno de sucesso na petizada, e vai daí, é só facturar e facturar com cds e brinquedos e estojinhos e lápis e brinquedos de fazer bolhinhas de sabão e t-shirts e...o que nos fazia estar ali, "vibrantes" concertos...Desta vez, o urso vem acompanhado de 4 palermas, 2 rapazes e 2 raparigas, vestidos com macacões e trapos coloridos, prontos para ensinar belas musicas para as miudas lá de casa se banquetearem, dançarem, cantarem e me massacrarem, de cada vez que eu ousar (tentar) ver as noticias ou a bola, lá em casa...

Ainda o espectáculo não tinha começado, já tínhamos comprado marchandise dos “artistas”, lá ocupamos os nossos lugares e aguardamos o inicio, sempre musicados e motivados por vídeoclips em 2 enormes écrans da esganiçada Xana Toc-toc, num volume de som altissimo e num grande estardalhaço…

Finalmente, as cortinas vermelhas abriram-se e lá começou…

A Cácá, do inicio ao fim do concerto, foi firme na sua postura: ao colo da mãe: manteve a expressão “boquiaberta”, como se fosse a coisa mais espectacular que alguma vez tenha acontecido na face da terra…e se calhar, para ela, foi mesmo.

A Ana estava também muito empolgada, estava a adorar, até que os Caricas se lembraram (estupidamente) de chamar ao palco uma criança que soubesse “jogar ao arco”. A Ana pediu “Posso ir, pai?”, eu respondi sussurrando “Mas tu não sabes…” Entretanto já tinha subido uma miúda…Passadas umas musicas, voltaram à carga e levaram para o palco mais 4 ou 5 miúdos para coreografar com eles…Intervalo! E com ele, o primeiro sinal de alerta: a Ana estava um pouco desapontada por não ter subido também ela ao palco. Eu estava empenhado (ou pelo menos queria mostrar que estava) em tentar remediar a coisa na 2ª parte…

Ia (e fui) com a Ana para junto do palco, onde dezenas e dezenas de miúdas estavam a dançar, sedentos para serem escolhidos para subir ao palco… E assim foi! Fiquei ali de joelhos, circundado por crianças que saltavam tresloucadas, que ma calcavam as mãos, tropeçavam nas minhas pernas, até que fugi (literalmente) para junto do palco, mas na lateral, para tentar sobreviver àquela debandada de gnus, qual Mufassa no Rei Leão.

Por momentos, viajei no tempo e dei por mim a pensar se o Panda iria-se embrulhar todo em celofane e iriam queimar os seus entrefolhos com cêra a ferver; ou se alguma das caricas iria dar uma de bondage em cima doutro carica, ou se as duas caricas podiam-se tornar tão amigas quanto umas checas que neste mesmo pavilhão assisti a entregarem-se uma à outra, numa amizade como eu nunca tinha visto…mas TRÀZZZZZZ! Voltei a mim e nada disso estava a acontecer, além de tal hipótese ser, só por si, doentia…

Voltando à (triste) realidade, na verdade, mais nenhum miúdo foi chamado ao palco, por isso, não houve essa hipótese de desilusão… Pensava eu!

Desde o fim do espectáculo até casa, foi uma choradeira , que nem um balão da Barbie acalmou, por não ter conseguido subir ao palco ou estar junto dos Caricas. Pior, a culpa disso tudo era minha, por não a ter levado mais cedo para junto do palco, onde a magia acontecia…

Depois, a desilusão foi sendo substituída por má-disposição e mau ambiente geral dentro do carro, em mais uma viagem infernal até casa…

Confesso que a minha paciência com choradeira não é muita, mas quando ela “não tem (uma boa) razão de ser” pior ainda… Mas lá serenou, ou melhor, lá serenamos os dois…Uffff!

Mas ainda hoje, a Ana, não raras vezes me pergunta cabisbaixa, num tom inquisitório “Porque disseste que eu não sabia jogar ao arco? Eu sei, tu é que não…Podia ter ido ter com os Caricas!”; Eu pergunto até quando ela me vai acusar da sua infelicidade, mas não tenho resposta…só um desesperante e incógnito silêncio, que faz prever um longo calvário…e uma sensação de desilusão como pai...

Portanto, voltando atrás e resumindo, entre sacar à borla na pirataria o DVD dos Caricas que dá para divertir as miudas horas e horas em frente ao LCD, ou gastar uma pipa de massa (a brincar a brincar, a brincadeira ficou por 100 euros) para levá-las ao concerto e ainda por cima para sermos condenados a “maus-da-fita” e "destruidores de sonhos", mais vale o quê, meus amigos? Claro, o salão erótico…

PS - Do mais triste desse dia, foi ter encontrado lá dois bons amigos com os seus filhotes...Não, não foi triste encontrá-los, mas se fosse em Fevereiro, divertiamo-nos muito mais, de certeza...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Ode to an old (special) lady....

"Ele veio ter comigo, era Agosto...um dia... no campo do Bolhão e perguntou-me se queria "falar" com ele. Eu perguntei-lhe: - Mas tu não "falas" com a Quitas? , e ele disse-me "Não. Há mais de uma semana que não "falo" com ela...
No dia seguinte, fui a casa dela: - Quitas, tu não "falas" com o Rufino de Sá? ; - Não, há mais de uma semana ; - E ele deve-te alguma coisa? - Não...Podes "falar" com ele à vontade...
Se ele lhe devesse alguma coisa, não aceitava "falar" com ele, nem queria saber mais dele...
(...)
Naquele tempo, não se usava irem carros aos casamentos, mas ao nosso, ele conseguiu que fossem 6...6 carros!!! (e os seus olhos brilharam e o sorriso abriu-se)
Depois fomos para uma "loja" comer qualquer coisita com os irmãos dele, as irmãs, o meu irmão, o meu pai...e depois ele perguntou-me: - Tens aí alguma regueifa?; eu disse que sim. E fomos a casa do avô dele levar-lhe a regueifa, antes de irmos para casa..."

Se esta história não fosse assim, se por acaso o Rufino de Sá devesse alguma coisa à Quitas, o marciano não estaria a escrever estas linhas neste momento...

Para a "Mina" (como eu e o meu irmão lhe chamamos desde que nascemos), que hoje completa 97 (!!!) anos, um beijo do tamanho da sua idade e que continue a contar-nos esta e outras histórias, da forma que só ela sabe! E já agora, que conte muitos....



Um destes dias, a minha avó disse-me: "Tu, Tiaguinho, bem podes gostar da Ana!!!"
Eu respondi-lhe, irónico: "Mas só mesmo da Ana?!?! E porquê?"
" Porque é a tua cara...vê-se bem que ela é tua filha..."

Por 2 segundos passou-me pela cabeça: Será que a minha avó sabe alguma coisa que eu não? Ou é só um devaneio?

Para disfarçar a minha azia, gracejei: "Eu sei, mas posso gostar nem que seja um bocadinho da Cácá?"
Ela sorriu, e disse-me meia a rir, meia condescendente: "Podes...Mas a Ana é a tua cara...."
uffffffffffff

PS- E tal como é seu expresso desejo todos os anos, hoje é dia de jantar na Pizza Hut...

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Desporto em familia...

Dizem os entendidos que uma das melhores e mais saudáveis formas de passar tempo em familia é o desporto. Além de desanuviar a mente, obviamente tem a parte, não menos importante, física.
Ora como pais atentos à saúde das miudas que somos, este ano lectivo decidimos também iniciar um desporto em familia, vai daí, inscrição geral em aulas de natação todos os Sábados de manhã.

Até aqui uma óptima ideia...

As aulas propriamente ditas, até correm bem. Uns dias dou colo à Ana, noutros à Francisca...vamos trocando e as coisas vão correndo, com alguma resistência natural duma criança com (quase) 4 anos e doutra com 2 anos e meio, em: mergulharmos totalmente as suas cabeças debaixo de água; tentarmos que nadem ou "batam os pés" com bolas de plástico e "esparguetes" de esferovite cheias de cor a "olhar" para elas pousadas na margem da piscina...isto tudo misturado com uma professora cinquentona nórdica, tão branca que parece nua com um fato-de-banho branco, com uns olhos muito arregalados, com ar de assassina em série e que outro dia, no fim da aula, já não sei porquê, resolveu partilhar que foi perseguida por uma colega quando era atleta profissional e que o lesbianismo é uma doença gravissima...mas fora isso, as aulas em si correm bem!

Ah, numa destas aulas, tive um bónus: um musical durante toda a aula com a música "O Caracol", pois a Francisca resolveu cantá-la toda a santa aula, enquanto eu, em vão, lhe pedia: "bate os pés", "olha para cima", "olhos de crocodilo".... e ela sempre : "O caracóól estava a churáá´, não tinha xóól para brincáá..." . A meio da aula desisti de dar instruções e verguei-me ao poder desse bicho rastejante...

Bem, acabada a aula, é hora de banhos, num balneário minúsculo, próprio para crianças, em que pais atropelam-se, estorvam-se, empurram-se, para conseguir dar banho, secar e vestir as suas crianças. Não há Sábado que não me sinta mal por ser o único pai (e não no sentido lacto, mas sim pai-homem) em tronco-nú, só de calções, no meio dumas 10 mães e dumas 12 crianças pequenas, todas meninas, claro...

Acabamos por deixar que grande parte se arranje e saia, mas, para que as miudas não apanhem frio, vamos tentando arranjar um espacinho para nós. Acabado de as arranjarmos, está na altura de tratar de nós próprios. E ter duas miudas tão pequenas quietas enquanto os pais se secam e se vestem??? É vê-las a pegar nos secadores de cabelo pendurados, espulinharem-se no chão encharcado, subirem aos bancos, irem para a zona das sanitas... enfim...não há piscina sem que não acabemos todos chateados, fartos de as mandar estarem quietas, delas fartas de nos ouvir... Entrados no carro, as bolachas do Ruca começam a circular e as coisas no banco de trás acalmam, mas nos da frente ainda são precisos uns minutos para nos recompormos...

Mas sim, o desporto é um óptimo programa para começar o fim-de-semana, agora não me convencem que é relaxante...Raios, isso não!!!

PS- Para completar, a Sara depois de lêr este texto, suspirou e disse: "Ufff! Até fiquei cansada só de me lembrar!".. Agora imaginem...

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

"Mas afinal..."


Ontem a Ana teve finalmente aquilo que andava a pedir à tanto tempo: o estojo de maquilhagem das Winx... Os olhos até se iluminaram quando o recebeu...e pai que é pai adora ver os olhos das suas filhas a brilhar...A Francisca recebeu uma máquina de sumos da Kitty, que também foi outro enorme sucesso.

Depois de banhinhos tomados, roupinhas vestidas, a Ana pediu para poder finalmente dar asas à imaginação e pôr-se bonita a ela e à irmã. Pedido aceite e que a beleza se multitplicasse e resplandecesse, enquanto fomos nos vestir...

O resultado, quando voltamos à sala, foi...



E a Ana rematou, cheia de si: "`Tás a ver, mãe? Estavas com medo que ía ficar mal, mas afinal...."

É isso, mãe: tens de aprender a confiar mais nas miudas...

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O ORGULHO MÁXIMO DO PAI (do Sporting)....



Todas as noites, conto à pequena Ana 2 histórias lidas de dois livros e, já de luzes apagadas, a sussurrar ao ouvido, mais 2 histórias:1 história "de reis e rainhas...e princesas e principes...de castelos e dragões...e nova" e outra "só de animais...e nova".

Imaginem a dificuldade que é todos os dias, repito, TODOS OS DIAS, ter que inventar 2 histórias completamente inéditas... E acreditem que não me deixa repetir, ne que seja o nome das personagens duma história para outra...ufffff!

Mas adiante...







Depois de lidas e contadas as histórias, ela embrulha-se nos lençóis da cama, encosta-se, pede que a aperte com força e todas as noites, como último suspiro, derrotada pelas horas e pelo sono, sussurra-me: "Pai, sonhos verdes-e-brancos!"

E o Rei Leão dorme melhor assim...

As fases do xixi-cocó...


Os filhos (e os seus pais, por efeito ricochete) passam todas pelas fases de "usar/deixar a fralda". -numa 1ª fase, os bebés fazem tudo o que é necessidade para um saco (vulgo fralda) que fica ali a aconchegar bem quentinho tudo o que é xixi e cócó numa bela mistura assada; numa 2ª fase, temos a fase em que as crianças vão avisando que já fizeram, mas que muitas vezes mentem, outras confundem "xixi" com "cócó", e os pais não sabem se devem confiar nelas, às vezes confiam e não deviam, outras não confiam e é falso alarme e tantas outras não confiam e já chegam tarde demais...Depois a fase fralda-cueca: as crianças vão pedindo, ainda com as tais fralda-cueca vestidas, para irem ao pote, depois à sanita, por aí...Depois então deixam de usar qualquer protecção fraldária, aumentando em larga escala o risco de vazamentos no esgoto, para a roupa e para os lençóis da cama...

As duas pequenas venusianas estão obviamente em fases diferentes.

A Francisca está na fase da "cueca-fralda", pede 5 vezes em cada 2 minutos para fazer "xixi" ou "cócó", para a levarmos à sanita, variando entre as sanitas disponiveis lá de casa. Não raras vezes, aparece na sala já com as calças e as ditas fraldas pelos tornozelos a pedir o mesmo... e anda assim pela casa até nos encontrar!
De cada vez que "faz" alguma coisa na sanita é um momento de alegria e de palmas, para parabernizar a pequena por mais um pequeno-grande feito...


A Ana já está na fase porreira. Já vai à sanita sozinha, com o insignificante inconveniente de não chegar ao botão do autoclismo, já não usa fralda nem para dormir e foi sempre desde que esta fase iniciou, uma óptima cumpridora das suas "obrigações".

Nunca foi um "stress" nem uma grande preocupação nossa com este tipo de coisas nas miudas. Elas largarão e largaram as fraldas quando "quiseram" (com óbvios e tranquilos incentivos nossos), tentamos que fosse sempre uma natural e pacifica transicção entre as várias fases. E por aí vamos acreditando, confiando também no papel das educadores e auxiliares da escolinha que foram e continuam a ser óptimas com elas, facilitando muito a nossa tarefa.

Numa noite desta semana, a Ana sentia-se adoentada, doia-lhe a lingua e a garganta, estava meia febril mas sem febre, deitei-a comigo na minha cama (e da mãe) e no meio daquele dorme/não dorme, molhou o pijama dela, a cama toda, o meu pijama, acho que até os meus ossos ficaram encharcados... mudei-lhe o pijama e deitei-a na cama dela...

De manhã, acordamos com a Ana encostada à nossa cama e, mal se apercebeu que estávamos a despertar, dissse calmamente: "Eu tinha mesmo esperança que não ía fazer xixi na cama...mas mijei-me toda...pijama todo mijado, cama toda mijada...."





Viagem ao fundo do inferno...

Aproveitando o último fim-de-semana prolongado, e porque estávamos a precisar duns dias sós a 4, partimos até ao Gerês, a fim de gozar uns dias tranquilos, calmos na bucólica e serrana paisagem geresiana.

E foram realmente uns dias excelentes!

Primeiro dia, aproveitamos para uns banhos de piscina, numa água gelada, como se a água daquela piscina fosse solidária com as águas gélidas das piscinas naturais da Serra. Mas correu tudo bem!

No sábado, tempo nublado, nada melhor para um passeio para visitar, por insistente insistência minha, uma ninhada de Labradores chocolate a Rossas, a uns 10/15 km de Vieira do Minho, o que pelas minhas contas, seriam uns 30 minutos de viagem...E não estava enganado...

Enganado estava na estúpida ideia de querer fazer uma viagem de carro com as 2 piores criaturas a transportar acordadas. Ainda não havia 2 minutos de viagem , já a mais velha perguntava "Falta muito?" e a pequena ia repetindo "Fáta munto?", antes de começar num berreiro e numa choradeira infernal... Não entendo como ela não sufoca ou não se cansa de tanto chorar e berrar...E nada a acalma! A mão bem salta para o banco de trás, para o meio delas, mas nada feito... De repente, começa a Ana a ameaçar um choro, misturando uns "tenho sono!" e de repente, no meio dum choro mais forte, lança um potente vómito por cima dela, por cima da mãe, por cima da cadeirinha...
Lá paramos na beira da estrada, mudamos-lhe a roupa, limpamos o que se consegue limpar com toalhitas...Tiramos a Francisca da cadeirinha, para que acalmasse o choro...
Ao fim dun 15 minutos de "limpezas" e de nojo, lá voltamos à estrada e lá voltamos à berraria, aos gritos, ao choro como se estivesse a ser desossada a mais nova... Uffff!

"Mais vale não sair de casa!" - suspirei. "TU não...Tu tens que manter a calma!"- ameaçou-me a mãe e, acreditem, à beira da daquela mulher toda vomitada de alto a baixo e com olhar ameaçador, a Baba Yaga (ler o post A ogresa e a Migalhinha) é uma menina simpática de côro...

Lá me recompus (para não ser empurrado por uma qualquer ravina) e seguimos...

Viagem de 30 minutos, dizia eu, que demorou "só" o dobro... Rossas pareceu-me o fundo do Inferno...

Momento de alguma tranquilidade enquanto viamos, pegávamos, dávamos colinho, fizemos festinhas aos espectaculares cachorrinhos labradores, de côr chocolate...

Depois disso, foi também o carro a ajudar à festa, que por ter o filtro de particulas sujo, volta e meia lembra-se e não desliga a ventoinha e mata a bateria toda...Para que isso não aconteça, andei para a frente e para trás no carro, metia a chave, ligava o carro, desligava, tirava a chave... e nada! o cabrão não obedecia! Acabei, depois de mais uma viagem de regresso (com almoço pelo meio, comigo sempre a correr ao carro de 10 em 10 minutos para ligar o motor, para que a bateria não morresse...) com mais um berreiro em côro, culminando num soninho colectivo... Paz!Paz! Não fosse a ventoinha continuar sempre a bombar....Grrrrr!

Chegados a casa, tudo tranquilo até as deitar, altura em que a Francisca começou a choramingar, "dói!dói!" e apontava para a barriguinha, que estava durinha...a Sara deu-lhe colo, para tentar que soltasse uns gases, andou pela casa e de repente....mais uma enorme vomitadela pela mãe abaixo! de tal maneira, que nem sujou o chão, tendo o cuidado de "colar" todo o gorgitado ao pijama da mãe...

Lá adormeceu, já aliviada e aquele dia bem longo terminou...

Dia seguinte, acordados, a mãe começou a sentir-se nauseada e foi então ela que começou com fortes vómitos, prolongando aquela agonia todo o dia...mais os 2 dias seguintes...

Depois disso, desinteria geral nas venusianas.

Em resposta a uma SMS "está tudo bem por aí?" do meu irmão, respondi-lhe, o que pode resumir este post, "conheces algum virus que só ataque fêmeas e que provoque vómitos e diarreia à pistola?"

Por mim, o "bicho", até agora, passou tranquilo à margem....

E a paz voltou à familia (e às sanitas) lá de casa!!!





Espero que não...

Como já referi noutros textos, e com certeza irei repetir mais vezes, a Ana é um poço de eloquência, volta e meia atirando uma frase muito adulta, cheia de personalidade, usando-a no tom e com a atitude certa.

Reza a lenda que eu também era assim. Um puto com a mania de se armar e que dizia expressões ou frases muito engraçadas, por serem totalmente desadequadas para a minha idade, pela expontaneidade e pela forma como as dizia. Não sei se eu seria assim, a Ana tenho a certeza.

E, o "melhor" de tudo, é que nunca se sabe quando vai disparar...

Num destes dias, estavamos a tomar o pequeno-almoço, a única refeição que é quase meter um funil na Ana para que coma e beba tudo...(nisto sai nitidamente à mãe que, para além, de não gostar de comer ao acordar, ameniza e tenta desculpar a Ana por também não querer...). Então lá estavamos nós na velha luta pais/filh@s: do meu lado, "come", "anda lá", "olha as horas", "despacha-te"; ela, por seu lado, ia dando envergonhadas mordidelas no pão, bebia uns tímidos goles no leite...

Para mudar o rumo da conversa, ela pega num estojo da Kitty (essa irritante gata de olhos em bico) e desafia "hoje vou levar isto para a escolinha", ao que respondo "nada disso! isso é para ficar em casa..". E a pequena mamífera afia os dentes (e a lingua) e dispara: "Está-me a querer parecer que tens cara de parvo...Parvo e idiota", depois sorri matreiramente e remata "Tens, não tens,pai?" - Se não tenho, nessa altura fiquei...

Ana, 1 - Marciano,0


Nesse mesmo dia, ao jantar, a meio duma bela refeição familiar, dei por mim estava, porque apesar de ser pai, sou também um homem que aprecia a sua mulher, de olhos fixos no decote da Sara quando sou "acordado" pela Ana : "Paiiii!" -sorriu e rematou "Estás a pensar o mesmo que eu, não estás, pai?". Sinceramente, espero que não...

Ana,2 - Marciano,0

Felizmente o jogo acabou pouco depois e fomos para a cama...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Post (atrasadíssimo) das férias…



Este ano não postei o normal texto com a descrição das férias, não porque não fomos, mas porque, e nisto o ser-humano tem especial mania, fiquei no pensamento com o pior que aconteceu nesses 15 dias…

Esteve bom tempo? Sim (apesar da água do mar estar fria)!

As miúdas portaram-se bem? Impecáveis!

A cama dos ursos lá estava à nossa espera…

Tudo o que se passou pela praia e arredores foi excelente e recomenda-se.

O pior mesmo foi a viagem de ida, em que a bomba de água do nosso “mini-bus” resolveu “colar” e partir o motor todo… A viagem ficou obviamente estragada, as férias atrasadas um dia, mas a verdadeira “dor” tivemos ontem quando finalmente soubemos o tamanho da pancada… 4500 Euros!!!  Parafraseando a Sara: “Mais valia termos ido para Cuba!”

A somar isto, mais 200 Euros que voaram sem nós no dia do casamento da minha prima, porque, por uma série de razões e acontecimentos e peripécias todas juntas, com uma reclamação no livro amarelo pelo meio, nos fizeram perder o avião… Mas neste caso, doeu-me nem tanto pelo dinheiro, mas por ser o casamento da minha única prima casadoira e porque sabia que seria (e soube que foi mesmo) um excelente, descontraído e divertido dia entre os meus… Enfim! Se eu fosse a Maya, diria que os astros alinharam-se nesse dia para me f……..

Resumindo, foram umas férias que se esperavam low-cost e saíram caríssimas… Para o ano, férias em Aldoar!!!


A Ogresa e a Migalhinha









“Baba Yaga tinha um único dente.” – Assim começa o livro da história que a pequena Ana esta noite escolheu para que eu lhe contasse, já na caminha.

Aquilo que um pai deseja, acima de tudo, é que o livro, a história, o conto a ler nesta altura do dia, seja numa onda calma, pacífica, harmoniosa, para que seja o primeiro embalo duma noite serena e de um sono tranquilo.

O livro chama-se precisamente “Baba Yaga”, de Tai-Marc Le thanh e Rebecca Dautremer,  e reza a história de uma menina só de um dente que, por precisamente ter só esse dente e por ser gozada pelos outros miúdos, se foi tornando cada vez mais malvada.

Ainda na primeira página pode-se ler : “Apesar de tudo, ela queria parecer-se com as outras crianças e aprendeu a assobiar, mentir, arrotar e sobretudo, mastigar com um só dente. Para treinar, ela começou por comer o ser cão, Auau Yaga (…) não gostava de animais (a não ser em guisado).”

Estavam lançados para uma história, no mínimo, estranha, mas de nada me valia recuar, até porque a Ana estava atentamente vidrada a ouvir e aquilo, depois da miúda comer o cão, só podia (achava eu) melhorar.

Viro a página…
“Baba Yaga sentia-se muito só. Como só tinha um dente, ao contrário das outras crianças, resolveu comer algumas. Achou-as bem mais saborosas e decidiu tornar-se ogresa…”

Neste momento, engoli em seco e pensei, por milésimos de segundo, que aquilo que saiu da minha boca não podia ser aquilo que eu percebi…

Mas na verdade era. A Baba Yaga comia crianças que nem ginjas, adorava o seu sabor, mastigava-as dolorosamente devido a ser “unidente”… Foi então escorraçada para viver isolada na floresta, mantendo apenas contacto com a sua mana, a Caca Yaga. (neste momento eu e a Ana esboçamos um tímido sorriso, porque no meio daquele mix de Shreck com Dexter e Hannibal Lecter, descobrimos que a canibal tinha uma irmã Caca, tal como é tratada a pequena Francisca, cá em casa) …

A narrativa acrescenta que “Baba Yaga continuava a comer crianças: tartes de garotos, assados de miúdos com conserva de limão, chouriços de petizes com azeitonas, tirinhas de toucinho com criancinhas…” Até abriu um restaurante, “Cantinho de Petizes”, onde nenhum cliente foi, vai-se lá saber porquê, o que pelos vistos, tornou a “cordial” ogresa ainda mais malvada.

A irmã da ogresa (Caca Yaga) mudou o nome para Madalena ( não me perguntem em que é que esta informação enriquece a história, porque não faço ideia…), casou e “ganhou” uma enteada de nome Migalhinha.

Como a Madalena “gostava imenso” da enteada, mandou que Migalhinha fosse a casa da sua irmã na floresta. Entretanto a miúda, pelo caminho, é avisada por um sapo falante que a tia a vai triturar só com um dente. A miúda fica renitente, apesar do “fio de baba a escorrer pelo queixo da velha” quando a viu à sua porta, até ver o banho quente de imersão que a tia preparou para ela, com nabos e legumes a boiar, qual belo guisado de miúdos…

 A tal Migalhinha lá se consegue escapar da casa da terrível e comilona tia, corre em pânico, sempre com a malvada da tia quase a alcança-la, mas lá se safa e acaba por chegar a casa, conta ao pai que, enraivecido, expulsa a madrasta de sua casa, iniciando-se provavelmente mais um processo complicadíssimo de divórcio.

Para concluir a história, a ogresa voltou para casa furiosa e conclui-se: “Baba Yaga continua com fome.”

Sinceramente, não sei se esta última frase pretende criar alguma empatia entre o leitor e a ogresa, dando a imagem duma criatura terrível todo o livro, mas que no fundo, era um ser-humano (ou mais ou menos) e que tinha fominha e que de fome ninguém deve padecer…

Por mim, que o raio da ogresa morra de fome, chiça!

A história terminou e temi pelas perguntas, por vezes estranhas, da Ana, mas desta vez, talvez por estar perdida de sono, deixou escapar apenas um “Esta era um bocadinho mazinha, não era, pai?”
“Era, filha. Tinha dias, mas no fundo ela gostava muito de crianças. E isso é que era importante…”

Tal livro pode ser lido a crianças com 3 ou 4 anos que não têm o alcance e a capacidade de absorver a gravidade do que se possa ler, mas contar esta mesma história a miúdos de 6 ou 10 anos, pode ser problemático…

Confesso que mesmo eu, já adulto, não prometo que não vá sonhar com uma tipa gorda, feia como tudo, mal vestida, a correr atrás de mim pela floresta, para me espetar o único dente que tem, no seu escuro e assustador sorriso…

A editora do livro é a Editora Educação Nacional. Não conheço, mas desaconselho este livro a menores e a pessoas mais sensíveis.

PS1- Quando escrevi este post, ontem à noite, já todas dormiam lá em casa e fui-me perguntando enquanto teclava “Mas quem, no seu perfeito juízo, compra um livro destes, que faz o Carpenter um escritor simpático?” Descubro hoje, ao mostrar o texto à minha melhor crítica, na habitual pré-leitura, que , devido às magnificas ilustrações do livro, fomos mesmo nós, os pais, que o compramos.
Então, o meu humilde conselho é: que as ilustrações não sejam o único ou mais importante critério na compra dum livro infantil; há que dar uma rápida vista de olhos….

PS2- Ao fazer uma pequena pesquisa "googlar" sobre esta criatura, apercebi-me que, afinal estamos perante um sucesso eslavo, uma personagem mitológica, em relativa escala, o que atesta alguma cultura geral à compra deste livro (ou não?)...pelos vistos, andamos distraidos e fomos iludidos com tais belas ilustrações...