O dia-a-dia dum Marciano em Vénus, numa casa de mulheres: Sara (a mãe), Maria Ana, Maria Francisca e Maria Rira (mais a cadela Karina)...

Um tremendo desafio para um homem na idade moderna: como compreender, como falar a linguagem delas, como perceber as suas "mariquices", como ralhar sem fazer chorar, como controlar sem ser controlador, como deixar andar mantendo as meninas vigiadas...ufff! Enfim, como ser dominado e achar que se domina tudo...

Estou a escrever isto e já só quero fugir...

Mas a viagem já começou e este marciano vai a caminho de Vénus, com um bilhete só de ida no bolso (com um grande sorriso de felicidade nos lábios...)...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Post (atrasadíssimo) das férias…



Este ano não postei o normal texto com a descrição das férias, não porque não fomos, mas porque, e nisto o ser-humano tem especial mania, fiquei no pensamento com o pior que aconteceu nesses 15 dias…

Esteve bom tempo? Sim (apesar da água do mar estar fria)!

As miúdas portaram-se bem? Impecáveis!

A cama dos ursos lá estava à nossa espera…

Tudo o que se passou pela praia e arredores foi excelente e recomenda-se.

O pior mesmo foi a viagem de ida, em que a bomba de água do nosso “mini-bus” resolveu “colar” e partir o motor todo… A viagem ficou obviamente estragada, as férias atrasadas um dia, mas a verdadeira “dor” tivemos ontem quando finalmente soubemos o tamanho da pancada… 4500 Euros!!!  Parafraseando a Sara: “Mais valia termos ido para Cuba!”

A somar isto, mais 200 Euros que voaram sem nós no dia do casamento da minha prima, porque, por uma série de razões e acontecimentos e peripécias todas juntas, com uma reclamação no livro amarelo pelo meio, nos fizeram perder o avião… Mas neste caso, doeu-me nem tanto pelo dinheiro, mas por ser o casamento da minha única prima casadoira e porque sabia que seria (e soube que foi mesmo) um excelente, descontraído e divertido dia entre os meus… Enfim! Se eu fosse a Maya, diria que os astros alinharam-se nesse dia para me f……..

Resumindo, foram umas férias que se esperavam low-cost e saíram caríssimas… Para o ano, férias em Aldoar!!!


A Ogresa e a Migalhinha









“Baba Yaga tinha um único dente.” – Assim começa o livro da história que a pequena Ana esta noite escolheu para que eu lhe contasse, já na caminha.

Aquilo que um pai deseja, acima de tudo, é que o livro, a história, o conto a ler nesta altura do dia, seja numa onda calma, pacífica, harmoniosa, para que seja o primeiro embalo duma noite serena e de um sono tranquilo.

O livro chama-se precisamente “Baba Yaga”, de Tai-Marc Le thanh e Rebecca Dautremer,  e reza a história de uma menina só de um dente que, por precisamente ter só esse dente e por ser gozada pelos outros miúdos, se foi tornando cada vez mais malvada.

Ainda na primeira página pode-se ler : “Apesar de tudo, ela queria parecer-se com as outras crianças e aprendeu a assobiar, mentir, arrotar e sobretudo, mastigar com um só dente. Para treinar, ela começou por comer o ser cão, Auau Yaga (…) não gostava de animais (a não ser em guisado).”

Estavam lançados para uma história, no mínimo, estranha, mas de nada me valia recuar, até porque a Ana estava atentamente vidrada a ouvir e aquilo, depois da miúda comer o cão, só podia (achava eu) melhorar.

Viro a página…
“Baba Yaga sentia-se muito só. Como só tinha um dente, ao contrário das outras crianças, resolveu comer algumas. Achou-as bem mais saborosas e decidiu tornar-se ogresa…”

Neste momento, engoli em seco e pensei, por milésimos de segundo, que aquilo que saiu da minha boca não podia ser aquilo que eu percebi…

Mas na verdade era. A Baba Yaga comia crianças que nem ginjas, adorava o seu sabor, mastigava-as dolorosamente devido a ser “unidente”… Foi então escorraçada para viver isolada na floresta, mantendo apenas contacto com a sua mana, a Caca Yaga. (neste momento eu e a Ana esboçamos um tímido sorriso, porque no meio daquele mix de Shreck com Dexter e Hannibal Lecter, descobrimos que a canibal tinha uma irmã Caca, tal como é tratada a pequena Francisca, cá em casa) …

A narrativa acrescenta que “Baba Yaga continuava a comer crianças: tartes de garotos, assados de miúdos com conserva de limão, chouriços de petizes com azeitonas, tirinhas de toucinho com criancinhas…” Até abriu um restaurante, “Cantinho de Petizes”, onde nenhum cliente foi, vai-se lá saber porquê, o que pelos vistos, tornou a “cordial” ogresa ainda mais malvada.

A irmã da ogresa (Caca Yaga) mudou o nome para Madalena ( não me perguntem em que é que esta informação enriquece a história, porque não faço ideia…), casou e “ganhou” uma enteada de nome Migalhinha.

Como a Madalena “gostava imenso” da enteada, mandou que Migalhinha fosse a casa da sua irmã na floresta. Entretanto a miúda, pelo caminho, é avisada por um sapo falante que a tia a vai triturar só com um dente. A miúda fica renitente, apesar do “fio de baba a escorrer pelo queixo da velha” quando a viu à sua porta, até ver o banho quente de imersão que a tia preparou para ela, com nabos e legumes a boiar, qual belo guisado de miúdos…

 A tal Migalhinha lá se consegue escapar da casa da terrível e comilona tia, corre em pânico, sempre com a malvada da tia quase a alcança-la, mas lá se safa e acaba por chegar a casa, conta ao pai que, enraivecido, expulsa a madrasta de sua casa, iniciando-se provavelmente mais um processo complicadíssimo de divórcio.

Para concluir a história, a ogresa voltou para casa furiosa e conclui-se: “Baba Yaga continua com fome.”

Sinceramente, não sei se esta última frase pretende criar alguma empatia entre o leitor e a ogresa, dando a imagem duma criatura terrível todo o livro, mas que no fundo, era um ser-humano (ou mais ou menos) e que tinha fominha e que de fome ninguém deve padecer…

Por mim, que o raio da ogresa morra de fome, chiça!

A história terminou e temi pelas perguntas, por vezes estranhas, da Ana, mas desta vez, talvez por estar perdida de sono, deixou escapar apenas um “Esta era um bocadinho mazinha, não era, pai?”
“Era, filha. Tinha dias, mas no fundo ela gostava muito de crianças. E isso é que era importante…”

Tal livro pode ser lido a crianças com 3 ou 4 anos que não têm o alcance e a capacidade de absorver a gravidade do que se possa ler, mas contar esta mesma história a miúdos de 6 ou 10 anos, pode ser problemático…

Confesso que mesmo eu, já adulto, não prometo que não vá sonhar com uma tipa gorda, feia como tudo, mal vestida, a correr atrás de mim pela floresta, para me espetar o único dente que tem, no seu escuro e assustador sorriso…

A editora do livro é a Editora Educação Nacional. Não conheço, mas desaconselho este livro a menores e a pessoas mais sensíveis.

PS1- Quando escrevi este post, ontem à noite, já todas dormiam lá em casa e fui-me perguntando enquanto teclava “Mas quem, no seu perfeito juízo, compra um livro destes, que faz o Carpenter um escritor simpático?” Descubro hoje, ao mostrar o texto à minha melhor crítica, na habitual pré-leitura, que , devido às magnificas ilustrações do livro, fomos mesmo nós, os pais, que o compramos.
Então, o meu humilde conselho é: que as ilustrações não sejam o único ou mais importante critério na compra dum livro infantil; há que dar uma rápida vista de olhos….

PS2- Ao fazer uma pequena pesquisa "googlar" sobre esta criatura, apercebi-me que, afinal estamos perante um sucesso eslavo, uma personagem mitológica, em relativa escala, o que atesta alguma cultura geral à compra deste livro (ou não?)...pelos vistos, andamos distraidos e fomos iludidos com tais belas ilustrações...