O dia-a-dia dum Marciano em Vénus, numa casa de mulheres: Sara (a mãe), Maria Ana, Maria Francisca e Maria Rira (mais a cadela Karina)...

Um tremendo desafio para um homem na idade moderna: como compreender, como falar a linguagem delas, como perceber as suas "mariquices", como ralhar sem fazer chorar, como controlar sem ser controlador, como deixar andar mantendo as meninas vigiadas...ufff! Enfim, como ser dominado e achar que se domina tudo...

Estou a escrever isto e já só quero fugir...

Mas a viagem já começou e este marciano vai a caminho de Vénus, com um bilhete só de ida no bolso (com um grande sorriso de felicidade nos lábios...)...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O amor tem limites?!?!

O amor paterno não tem limites, tal como o materno. Crescemos e percebemos ao longo dos anos, que mesmo o amor de filho , e aqui falo só por mim, também não o tem. Isto, felizmente. É bom que neste mundo moderno em que vivemos que tudo é cotado, é limitado, é contado, é contabilizado, existam determinados conceitos, sonhos, desejos e, neste caso concreto (o amor), sentimentos que não se conhecem os seus limites...

Num destes belos momentos familiares caseiros, um belo jantar a 4, já com a pequena gordinha sentada numa cadeira como os demais, pergunto (e aqui auto-flagelo-me e denuncio a minha estupidez por tal) à Ana: "Gostas da Cácá?, ao que ela obviamente concordou, acrescentando um sorridente "bastante", que a nós, pais, enche de orgulho e ternura.
Podia e devia ter ficado por aí, mas quando se é pai, há uma certa ingenuidade (e parvoíce) que se apodera de nós...
Insisti então nesse tipo de perguntas...
"E da mãe gostas?"."Siiiim!".."E do pai?"..."Tambéém".
Até aqui tudo sobre rodas para uma bela noite de harmonia familiar.
Então a mãe, aproveitando o embalo das minhas perguntas e querendo testar a capacidade de resposta da Ana (bem evoluida para a idade, diga-se modestamente, que muitas vezes até a nós nos surpreende), questionou: "Quanto é que gostas da mãe?", ao que a pequena fez uma conchinha com as mãos em cima da mesa, e depois esticando o máximo que conseguiu o braço e a mão direita em direcção ao tecto, respondeu: "Gosto assiiiiiiim".
E para mim, a história devia acabar aqui....
Mas não.
Embalado, perguntei: "E do pai, quanto é que gostas?"
A pequena volta a fazer a conchinha com as mãos, em cima da mesa e "Gosto assiiiiiiiiim", diz a sorrir sem mexer as mãos daquela posição de conchinha....
O meu mundo desabou, os olhos arregalarm-se, o coração desfez-se em lágrimas de sangue e pensei em varrer o meu orgulho de pai para debaixo do tapete...

Ainda disparei um triste "Sóó?"
E voltei ao ataque para fazer-lhe ver uma possivel distração desculpável num pequeno cérebro com 3 anos e meio...
"Quanto é que gostas mesmo da mãe?"
Neste caso, não houve gestos, só um iluminado e luminoso sorriso "Até ao céééeúuuu"
Sim, eu sabia que o céu era bem mais que aquele bracinho de 2 palmos esticado em direcção ao tecto, mas bolas, também não poderia ficar-se por uma conchinha o amor ao pai...
Hesitei mas arrisquei..."E do pai?"
"Do pai? Gostooooo...até ao candeeiro" e aponta com um gesto para o candeeiro que alumiava aquela bela refeição familiar por cima das nossas cabeças. E por 3 segundos, os nossos olhares fundiram-se naquele estúpido candeeiro, que acabara de se transformar numa espécie de homenagem a mais uma derrota paternal...
Para mim , naquele momento, aquele estupido candeeiro transformou-se naquelas nuvens escuras, carregadas de chuva e trovoada que aparecia por cima das cabeças nos desenhos animados...

Levantei-me e fui deitar o meu orgulho ao balde do lixo...

Moral da história: Não façam perguntas a crianças, para as quais não estejam preparados para as suas respostas...