O dia-a-dia dum Marciano em Vénus, numa casa de mulheres: Sara (a mãe), Maria Ana, Maria Francisca e Maria Rira (mais a cadela Karina)...

Um tremendo desafio para um homem na idade moderna: como compreender, como falar a linguagem delas, como perceber as suas "mariquices", como ralhar sem fazer chorar, como controlar sem ser controlador, como deixar andar mantendo as meninas vigiadas...ufff! Enfim, como ser dominado e achar que se domina tudo...

Estou a escrever isto e já só quero fugir...

Mas a viagem já começou e este marciano vai a caminho de Vénus, com um bilhete só de ida no bolso (com um grande sorriso de felicidade nos lábios...)...

terça-feira, 17 de julho de 2012

Maravilhado com a educação – Parte I


Então chegou finalmente a data da “visita” ao oftalmologista, para se analisar se na pequena Ana o olhinho direito continua a fugir muito e ver se é preciso ajustar a graduação…

Lá fomos à CUF, quais senhores ricos ou beneficiários de excelentes seguros de saúde facultados pelas empresas que nos pagam o ordenado…Nada mais errado! Tesos, mas nas melhores e mais caras clinicas do país…Ah! E sem qualquer seguro de saúde…

Para relembrar, a Francisca tem na testa provavelmente os pontos mais caros da história da medicina moderna…Se ainda me lembro (porque fiz um esforço para apagar esta memória do meu “disco-duro”) ficou à volta da módica quantia de 180 Euros cada um!!! Felizmente, foi uma cicatriz de 2 pontos…

Antes do relato dos facto, só queria esclarecer que não voltamos ao local do roubo (leia-se "mesmo hospital") por qualquer rasgo de masoquismo, mas porque este médico que acompanha os “olhinhos” da Ana tem consultório privado em Gaia e o preço da consulta é o mesmo. Por isso, entre ter que atravessar a Arrábida e meter-me na confusão “qu`é Gaia”, “caguei” (não resisto a este jogo de palavras) e voltamos ao local onde fomos assaltados meses antes.

Mas voltando à actualidade, eis-nos na sala de espera do Hospital Mello…Eu a ler as várias revistas de propaganda ao grupo hospitalar, que cria em nós uma vontade quase incontrolável de estourar dinheiro em consultas, exames e operações, desde que seja na Cuf… mesmo que isso quisesse dizer que a saúde nos poderia estar a escapar, não interessa: só nos apetece ficar doentes para conhecer todas aquelas caras bonitas e felizes, aqueles sorrisos rasgados de todos os que trabalham lá, aquelas salas de operação lindas, toda aquela luz, aquele brilho, aquele glamour, aquela luuuuzzzz….

Finalmente, sou “acordado” pela pequena Ana que pousa junto a mim, no sofá, um daqueles brinquedos didácticos com 3 arames de cores diferentes entrelaçados entre si, com bolinhas que os percorrem de uma ponta a outra…

Não sei qual o interesse daquilo, e pelos vistos a Ana também não que rapidamente se cansa daquilo e o deixa ficar, imóvel, junto a mim. Outra menina, de uns 6 anos talvez (a Sara é que sabe a idade certa, pois sou péssimo a adivinhar as idades só analisando fisicamente alguém…), pega no dito brinquedo e leva-o para uma mesa de crianças, ao canto da sala, para se entreter. A Ana não gostou da atitude… E a partir desse momento, qualquer coisa que a miúda fizesse, lá vinha a Ana fazer queixinhas: “A menina tirou-me o lápis”; “a menina não me dá um desenho”…peditórios a que nem eu nem a mãe contribuímos e que rapidamente criticamos, para que a Ana não o repita. Aquilo lá passa, vamos à consulta… e “voilá”! boas noticias: a graduação mantém-se, o “olho foge menos”, tudo bem…

Saímos do consultório, e verdade seja dita, este médico sabe tratar crianças, ou então a Ana é mesmo fabulosa a colaborar naqueles exames todos… Ou então ambas as coisas são verdade. Continuando, vamos para outra sala onde temos que tirar um ticket numerado, para pagarmos… Até aqui tudo bem....

Lá aguardávamos pacientemente numa sala com vários sofás, apinhada de gente, quando percebo que a mesma miúda da outra sala está por ali perto, especada a olhar para a Ana. A Ana aproxima-se, diz qualquer coisa que não consegui ouvir, pede-lhe um beijinho e “rouba-lhe” um beijinho no braço da miúda, que continuava imóvel, a olhar para a Ana, de pé, no meio da dita sala.

A Ana afasta-se da miúda, está mais ou menos a 1 metro de mim, já sentado num sofá e dispara elegantemente em voz de discurso eleitoral: “Pai, sabes porque é que a menina está assim?”
Eu, estupida e precipitadamente, enquanto pensava “assim como?”, deixei sair um “Não, porquê?"
E, para meu “orgulho”, a minha miúda dispara em alto e bom som: “Porque quer arrear a giga, pai! Porque quer arrear a giga!”

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Olhei para a mãe que pelo olhar, não se tinha apercebido, e a miúda repetiu convenientemente e desta vez ainda mais alto tais simples e, ao mesmo tempo, fortes palavras…

Claro que apressei-me a disfarçar :”Estes miúdos na escola aprendem cada coisa…Tsss…Tsss…” tentado desvalorizar o incidente.
Duas coisas a reter: 1- nem sempre numa sala de pagamentos, o que nos vai custar mais é o pagar, propriamente dito ; 2- nunca sejam tão descritivos quando estão a sair da sala de estar a caminho da casa-de-banho, com crianças com mais de 3 anos presentes... as pestinhas decoram tudo e, quando menos esperamos, vão usar o que aprenderam contra nós...

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