O dia-a-dia dum Marciano em Vénus, numa casa de mulheres: Sara (a mãe), Maria Ana, Maria Francisca e Maria Rira (mais a cadela Karina)...

Um tremendo desafio para um homem na idade moderna: como compreender, como falar a linguagem delas, como perceber as suas "mariquices", como ralhar sem fazer chorar, como controlar sem ser controlador, como deixar andar mantendo as meninas vigiadas...ufff! Enfim, como ser dominado e achar que se domina tudo...

Estou a escrever isto e já só quero fugir...

Mas a viagem já começou e este marciano vai a caminho de Vénus, com um bilhete só de ida no bolso (com um grande sorriso de felicidade nos lábios...)...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Há precisamente 2 anos...


Porto, 4 de Julho de 2010
6:20…

Sou acordado a meio da noite, meio sobressaltado, pensando que seria mais uma das noites (péssimas) que a Ana estaria a dar.
“Está na hora…Estou com contracções desde as 3 da manhã  e cada vez mais próximas umas das outras…” – explicou-me tranquilamente a mãe venusiana.
“Mas….É para ir para o hospital agora?” – Perguntei meio morcão do sono e enganado por aquela tão grande tranquilidade dela.
“Não…É para irmos ao cinema…Anda lá! Arranja-te para irmos. Já estou pronta…”
Lá me despachei e em menos de nada, lá nos despedimos da pequena Ana (na altura com ano e meio), que dormia sossegada e assim ficou, na companhia da Bó Tiz.

Pelo caminho, fizemos aquilo que sempre sonhámos e que achávamos (e continuamos a achar) que as viagens para o hospital para parir, deviam ser. Todas deviam ser com os 4 piscas, buzinadelas em todos os cruzamentos e ignorar tudo o que era sinais vermelhos pela Circunvalação acima… Foi, digamos, uma pequena montanha russa de adrenalina para o dia que aí vinha e os momentos que planeávamos haviam de se seguir.

Chegados ao hospital S.João e ao serviço respectivo, a parturiante lá entrou e ficou o pai na sala de espera, enquanto a “preparavam”…
Adoro esta maneira nos hospitais de dizerem que vão despir as pessoas e vestir-lhes uma bata (e nalguns casos, uma fraldinha também…)
Lá de dentro, ainda consegui ouvir a mãe “ordenar”: “mas eu quero epidural! Eu quero…”, dando a entender que estariam a sugerir que pudesse preferir o contrário…

Passados uns minutos, lá entrei e fui (porque já conhecia o caminho) até ao quarto onde já estava hospedada a mãe…
Quando foi da Ana, ano e meio antes, tinha sido um pouco diferente, já que a Sara foi internada no dia anterior para induzir o parto, começou com o trabalho de parto a meio da noite e o parto só aconteceu as 20 horas, como tal tinha sido uma “pequena” maratona…
Neste caso, já fomos preparados para tudo…
Mas não foi nada assim….
Lá começaram as movimentações e as medições do costume nestas coisas…”4 dedos”…”5 dedos”…”boa  dilatação”....(esta dos dedos faz-me sempre lembrar a anedota de bater palmas, algo porca, mas que querem? Lembra-me sempre.um dia conto…)…
Até que o Enfermeiro Francisco (que nunca mais vi desde esse dia) foi o mineiro de “serviço” e orientou um parto soberbo…Ele, e a Sara que faz estas coisas todas parecerem tão fáceis e naturais que um homem chega a acreditar que era capaz de conseguir…
Às 9:47 vi pela primeira vez aquela bebé tão bonita e 1 minuto depois o seu enorme rugido (leia-se berro) que ainda hoje faz questão de soltar ferozmente quando as coisas não correm conforme planeia…
O enfermeiro lá fez os arranjos finais e foi com a sua enorme simpatia à sua vida, deixando nos nossos braços o bebé mais perfeito e mais bem desenhado que já tinha visto até então (talvez só equiparada ao meu sobrinho mais velho Miguel, sendo que fui o 1º da família, depois dos pais, a vê-lo poucos momentos depois de ter nascido, e lembro-me bem que nessa altura nem coragem tive de lhe pegar, com medo de o danificar, de tão bonito que era…)
Só para ressalvar, a Ana é uma filha linda (para que ela um dia não leia isto e pense “Porra! Então e eu?”), mas era um bebé meio desconchabado, lindo aos nossos olhos, mas muito franzina e de testa saída…

Voltando ao parto, quero só relembrar que ambas as nossas filhas vestiram como “1ª roupinha” um pijama branco com o juba, desenho do Sporting… É certo que também ambas poucos minutos depois de o vestirem, borraram-nos todos, mas com cócó verde, o que só por si, demonstrava claramente o seu clube de eleição, até nas 1ªs fezes…
Diziam-me os arautos inteligentes “Era o mecónio, por isso, estava verde”… Nada mais errado, meus caros: AS MIUDAS JÁ NASCERAM VERDES POR DENTRO!!!


O que mais doeu à mãe, nesta estadia no hospital, não foram as contracções, nem a dor no parto, nem as “cozeduras”…Nada disso se comparou à dor das noites sem ter a Ana por perto. Lembro-me bem da agonia que foi para ela passar aquelas noites sem a filha… No dia seguinte, levei  a Ana a conhecer a Cácá… Foi giro ver uma coisa tão pequenina conhecer outra ainda mais pequenina e observar a Ana a tocar-lhe, a mexer-lhe, quase como se não entendesse bem o que se passava, se aquilo tinha vindo mesmo da barriga da mãe e, penso eu, se íamos mesmo levar “aquele brinquedo”  para casa…

Poucos dias depois, a família voltou a reunir-se em casa (na altura em casa dos avós maternos) e desde esse dia que o mundo melhorou… Nunca na vida fui mais completo, nem nunca na vida pensei ser capaz concentrar tanto amor em seres tão pequenos, mas ao mesmo tempo, tão meus, tão nossos, que pela vida dela daríamos a nossa sem hesitar.

A Cácá é uma fedelha cheia de personalidade, sabe bem o que quer e não é nada democrática; por outro lado, é capaz de estar horas a brincar sozinha com 2 ou 3 minnies e nem se dar por ela, enquanto a irmã não está 5 minutos sem companhia. São bastante e deliciosamente diferentes, por outro lado, ambas, delicadamente piegas (como a mãe).

Para descrever a relação entre elas não é fácil de definir nem de prever o futuro,  tendo em conta as idades, mas na verdade, à sua maneira pura de sentir e de viver, amam-se incondicionalmente.
Uma destas manhãs, já recentes, em que a família se reúne toda em cima da mesma cama, quando me ia levantar para o banho, vi as duas darem-se no abraço mais sentido, mais carinhoso e mais apertado (queixou-se depois a Ana que se calhar foi um bocadinho apertado demais..) que vi. Sem maldade, sem invejas, sem segundas intenções, nada, eram apenas 2 irmãs, pequeninas, que se abraçaram num amor só delas e ali, fui um privilegiado pai que testemunhei tal.

Melhor do que descrever este amor é deixar-vos o último diálogo pai e filha que tive hoje mesmo com a Ana, antes desta aterrar no sono:
- Filha, gostas da Cácá? - atirei
- Siiiim – respondeu rasgando a boca com aquele sorriso cheio de dentes só dela.
- Muito ou pouco? – testei.
Pensou e respondeu:
- Muito mais que isso….

Assim , no meio deste amor todo, Maria Francisca, dou-te os parabéns e desejo que sejas sempre tu...e eu estarei sempre lá por ti, aqui ou ali! E, no meio disto tudo, desculpa qualquer coisa...

2 comentários:

  1. Parabens a Caca! Parabens a Sara e a ti pelo Amor lindo e incondicional q aqui expressas! Parabens a Aninhas, de quem sou fa..e 'mt mais q isso'..
    Um beijinho grande, com saudades...
    Ps: qd quiserem vir a terra das princesas digam

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  2. Olha, a "querida Julia", já comentou! Parabéns à familia e especialmente à pequena Francisca!
    Soube à pouco do teu blog e tenho acompanhado! É impressionante as semelhanças entre os nossos "universos"! Um dia temos de juntar outros pais na nossa condição (1 marciano p/ 3 venusianas) e formar uma associação... sim pq não há quem nos proteja!

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